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Que futuro para Cristiano Ronaldo

 

10h29 CEST

27/05/2021

A Juventus acabou por se qualificar para a próxima edição da Liga dos Campeões, mas o facto de Cristiano Ronaldo ter ficado no banco no jogo decisivo, alegadamente por ter concordado com o treinador, Andrea Pirlo, que o melhor para ele era descansar, manteve o futuro do atacante português em suspenso. Com contrato por mais um ano com a Vecchia Signora, Ronaldo pode até ver-se na situação de não o cumprir, seja por entender que o que ia fazer para Turim já não é alcançável ou porque, precisando de reconstruir o plantel, o clube deseje parar de pagar os cerca de 60 milhões de euros anuais que custa mantê-lo. Mas tudo é muito mais complexo, transformando o caso num problema com várias soluções, nenhuma delas ideal.

Ganhando nas três derradeiras jornadas da Serie A a Sassuolo (3-1), Inter (3-2) e Bolonha (4-1), a Juventus ainda beneficiou do empate do SSC Nápoles em casa com o Verona no último dia para terminar o campeonato na quarta posição, a última que dava acesso à Liga dos Campeões. Depois de nove campeonatos ganhos de enfiada, parecia pouco, mas ao menos não afastava a equipa da principal competição europeia de clubes, a Champions, em nome da qual Andrea Agnelli foi buscar Ronaldo ao Real Madrid, há três anos. O insucesso nesta tarefa podia até levar à confluência de vontades entre um clube que contratara uma estrela para ser campeão europeu e deixara de acreditar no sonho, mantendo a despesa corrente de manutenção, e um jogador de tal forma focado em recordes que não lhe passaria pela cabeça ficar em Turim a jogar a Liga Europa. Essa, no entanto, é uma realidade ultrapassada. A Juve vai estar na Champions, mas a troca de Ronaldo por Morata no dia das decisões deixa espaço à especulação. Ficará Ronaldo em Turim?

Imaginemos que Ronaldo vê esgotado o projeto que o levou a Turim e quer sair. A questão aí é: para onde? Admitamos até que, em nome da poupança salarial que isso lhes permitiria, os italianos abdicam do valor da transferência ou fazem um desconto, libertando-o pelos 25 milhões de euros de que se fala, o que não é fácil de engolir, uma vez que ainda há três anos pagaram 117 milhões por ele. Mesmo assim, quem poderia contratar Ronaldo? Esqueçam os mercados chinês – o governo chinês deixou de bancar o futebol – ou norte-americano – o caso Mayorga inibirá o jogador de rumar à MLS, para evitar problemas com a justiça –, até porque tanto um como o outro impediriam Ronaldo de jogar a Champions pela 19ª época seguida.

Centremo-nos, portanto, na Europa. E aqui saltam para a mesa sempre as mesmas hipóteses: Real Madrid, Manchester United, Paris Saint-Germain e, surpreendentemente, até pelo que tem vindo a dizer a mãe do jogador, o Sporting. O PSG poderia ser uma hipótese atraente, porque se há coisa que ali não falta é liquidez. Porém, no futebol atual, não basta ter dinheiro e vontade de o gastar. Há que demonstrar viabilidade, obedecendo a mecanismos como o Fair-Play Financeiro. E não há forma de ser viável tendo no grupo Mbappé (35 milhões/ano), Neymar (70 milhões/ano) e Ronaldo. Neste caso, tudo dependeria do que vai acontecer com a jovem estrela francesa, que acaba contrato em 2022 mas parece tentado a sair a custo zero nessa altura, reclamando para si a parte de leão do investimento que alguém quiser fazer, em vez de dividir o bolo com o clube. Se vender Mbappé, evitando perdê-lo a custo zero daqui por um ano, o PSG terá condições para avançar para Ronaldo. Em caso contrário, tal será impossível.

Em Madrid, onde sonha com Mbappé mas não tem dinheiro para o pagar – Florentino Pérez tem em mãos um clube tão falido como Agnelli – o Real já terá entendido que o único caminho possível é para a frente, com lançamento de miúdos como Marvin, Gutiérrez, Rodrygo ou Vinicius, e não a olhar para os tempos de Sérgio Ramos ou Ronaldo. Em Manchester, é verdade, o regresso de Ronaldo seria uma boa forma para a família Glazer fazer as pazes com os adeptos, zangados com o dossier SuperLiga e sobretudo com o constante desinvestimento na equipa, se comparado com o crescimento dos gastos do City de Guardiola. De todos os pretendentes, o United é o único clube recorrentemente lucrativo e com capacidade para montar a operação. A questão é que não tem sido essa a atuação mais habitual dos donos americanos, sempre mais disponíveis para recolher dividendos – e com eles abater a dívida contraída para comprar o clube – do que para investir de forma a melhorar os resultados desportivos.

Além disso, se rumasse agora a Manchester, dificilmente Ronaldo conseguiria acabar no Sporting, que ninguém investe o que ele custa para o ter por uma época apenas e, apesar de Fernando Santos ter dito recentemente que ele “é uma máquina”, o português já está com 36 anos. O regresso imediato de Ronaldo ao Sporting, no entanto, pareceria precipitado e só seria possível num enquadramento mais global, que incluísse uma muito substancial redução salarial e a entrada do jogador como investidor na SAD. E isso também não é operação que se monte de um dia para o outro. Assim sendo, o mais provável é mesmo que Ronaldo fique em Turim. Resta perceber como.



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