10h34 CEST
27/05/2021
A convocatória de Fernando Santos para a seleção nacional que vai estar na fase final do Europeu de 2020 não tem surpresas de maior. O selecionador apresentou uma lista muito em linha com as que vinha fazendo até aqui, optando por ligeiríssimas liberdades criativas apenas na escolha dos três jokers, os jogadores que pode chamar a mais face às listas normais, em anos que não eram de pandemia. Quererá isto dizer que podemos ter um Portugal igual ao dos últimos sete anos, os anos em que a seleção foi comandada por este selecionador: nada brilhante, mas certamente competitivo.
Na manhã do dia do anúncio da convocatória tive a oportunidade de fazer a minha própria lista, enumerando os 26 jogadores que eu levaria à fase final se tivesse a possibilidade de escolher. Ao todo, a minha convocatória e a de Fernando Santos divergiram em apenas quatro nomes, os tais três jokers, que eu escolheria de forma a dar complementaridade ao plantel e que Santos preferiu nomear em nome de outros desígnios, e o de um quarto defesa-central, de que eu não teria abdicado, para não depender em excesso de dois veteranos (Pepe e José Fonte) ou de adaptações de médios à posição. Se eu levaria Rúben Semedo, Santos optou por mais um médio-centro, escolhendo Rúben Neves para um par de posições que já estavam ocupadas por Danilo, Palhinha, Sérgio Oliveira, João Moutinho, Renato Sanches e William Carvalho. Isto é: teremos três defesas centrais para duas posições e sete médios-centro para outras duas posições.
Depois, há a questão dos jokers. Santos levou William, jogador de inegável qualidade e peso no grupo em cuja recuperação o selecionador ainda acredita, mesmo depois de uma época com pouco brilho no Betis, mas eu teria preferido João Mário, que foi um dos pilares no título do Sporting e acrescentaria temporização e capacidade de gerir ritmos ao meio-campo. Se eu levaria Bruma, extremo direto e retilíneo com golo nas botas, Santos preferiu Rafa, o mesmo tipo de jogador, provavelmente com menos rendimento durante a época, mas com o elevado potencial de poder representar o seu clube, o Benfica, que é o mais popular do país. E isso não é de desprezar, como se viu quando se percebeu que Luís Enrique não convocara nenhum jogador do Real Madrid para a seleção espanhola. Por fim, se Santos optou por premiar tudo o que Pedro Gonçalves fez pela equipa do Sporting, até de forma a evitar a polémica que a exclusão do melhor marcador da Liga e do campeão provocaria, eu tê-lo-ia mantido nos sub21 que vão lutar pelo título europeu, por não lhe ver no imediato potencial para roubar um lugar no onze a Bernardo Silva ou Bruno Fernandes, preferindo Nani, jogador mais criativo do ponto de vista individual e do um para um (como não há no grupo desde a saída de Quaresma e a transformação de Ronaldo num avançado mais utilitário.
Esta seleção é, de qualquer modo, excelente. Assente em pilares como Rui Patrício, Rúben Dias, Pepe e Ronaldo, acrescenta-lhe o talento de Bruno Fernandes, Cancelo, Bernardo Silva ou Jota. No papel, Portugal terá melhor equipa do que em 2016, quando conseguiu ganhar o Europeu em França. Acontece que não é no papel que os campeonatos se ganham. A equipa nacional não entrará no campeonato como favorita – aparece nas bolsas de apostas atrás da França, da Inglaterra, da Bélgica, da Alemanha e da Espanha, mas ainda assim à frente das também credíveis Itália e Holanda – mas terá sempre hipóteses de se bater em cada jogo com qualquer equipa. Ali, no campo, o que vai decidir são fatores como o espírito de equipa, a adequação dos jogadores à ideia dos treinadores, o momento do dia ou a química entre os diversos elementos, fator particularmente importante numa prova destas, condensada num mês. E nisso Santos costuma ser forte: ganhou o Europeu de 2016, chegou às meias-finais da Taça das Confederações em 2017, caiu mais cedo no Mundial de 2018, é verdade, porque a equipa estava entre gerações, mas voltou a ganhar a Liga das Nações de 2019.